Entre 16 de maio e 24 de agosto de 2025, o MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, apresenta uma das mais significativas exposições de sua programação anual dedicada às Histórias da ecologia. Intitulada A Ecologia de Monet, a mostra lança um olhar contemporâneo sobre a obra de Claude Monet, reposicionando o mestre do impressionismo dentro do debate atual sobre meio ambiente, paisagem e a presença humana na natureza.
Com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, com assistência de Isabela Ferreira Loures, a exposição reúne 32 obras de Monet, a maioria delas inédita no hemisfério sul. Mais do que uma retrospectiva tradicional, a mostra propõe uma leitura crítica da relação entre arte e ecologia, revelando nuances da sensibilidade de Monet diante das transformações ambientais e da modernização do espaço natural entre os séculos XIX e XX.
Dividida em cinco núcleos temáticos, a exposição percorre momentos distintos da carreira do artista, das décadas de 1870 até 1920. No núcleo O Sena como Ecossistema, o rio que atravessa grande parte da vida e da obra de Monet é apresentado como símbolo de um ambiente em mutação, ora bucólico, ora moldado pela industrialização. Um painel curvo, que acompanha o percurso do rio, reforça o caráter imersivo da experiência expositiva.

Já em Os barcos de Monet, a água ganha ainda mais protagonismo, com composições que desafiam a linha do horizonte e revelam uma paleta vibrante, onde as cores dançam como a própria correnteza do rio. São obras que apontam não apenas para a beleza da paisagem, mas também para a fluidez da percepção, um dos pilares do impressionismo.
A urbanização e seus efeitos ganham corpo em Neblina e Fumaça, núcleo dedicado às atmosferas espessas de cidades como Londres. Aqui, Monet se volta às pontes de Waterloo e Charing Cross, capturando a névoa densa atravessada por luz e fuligem. As pinceladas são sutis, mas carregadas de crítica silenciosa à aceleração da modernidade.
Em O Pintor como Caçador, vemos um Monet em movimento, desbravando trilhas em busca de novas paisagens e impressões. Atravessando a costa francesa e outras geografias europeias, suas obras registram não apenas a paisagem externa, mas o gesto de descobri-la, tornando o ato de pintar uma espécie de caça estética.

O último núcleo, Giverny: Natureza Controlada, nos leva ao jardim que Monet criou como refúgio e laboratório pictórico. As célebres Pontes Japonesas e as Ninfeias revelam uma natureza cuidadosamente moldada, onde o desejo de controle contrasta com a espontaneidade da vegetação. O jardim de Giverny é, assim, um espelho de tensões contemporâneas: entre contemplação e intervenção, preservação e artifício.
“A exposição reflete uma relação complexa do pintor com a paisagem natural e o meio ambiente. Em suas pinturas coexiste um elogio ao meio ambiente e uma tentativa de organizá-lo, de contê-lo”, observa o curador Fernando Oliva. Essa ambivalência, entre encantamento e domínio, permeia toda a narrativa expositiva.

A Ecologia de Monet dialoga com outras exposições programadas para o ciclo temático de 2025, como as mostras dedicadas a Hulda Guzmán, Frans Krajcberg, Abel Rodríguez e à coletiva Histórias da ecologia. A iniciativa confirma o compromisso do MASP com uma abordagem plural e crítica da arte como ferramenta de reflexão ambiental.
Além da exposição, o público terá acesso a um catálogo bilíngue com ensaios inéditos de nomes relevantes do campo da arte e da ecologia, como Nicholas Mirzoeff, Caroline Shields e Ana Gonçalves Magalhães. A Loja MASP, por sua vez, oferece uma coleção exclusiva de produtos inspirados na obra de Monet, incluindo lenços de seda, cadernos e peças de design.

O MASP também reforça seu compromisso com a acessibilidade. A mostra conta com visitas em Libras, materiais em fonte ampliada e vídeos com interpretação e legendas, ampliando o alcance da experiência artística a diferentes públicos.
Claude Monet, ao capturar o efêmero, eternizou atmosferas, luzes e geografias em transformação. Ao trazê-lo para o centro de uma reflexão ecológica contemporânea, o MASP oferece não apenas um reencontro com o impressionismo, mas uma reinterpretação necessária, e profundamente atual, de sua herança visual.