Entrevista por Renata Sanches
Em meio ao cenário vibrante da alta gastronomia, poucos restaurantes conseguem traduzir com tanta precisão a elegância da técnica, a sensibilidade do gesto e a identidade de um país quanto o Oteque. Instalado em uma casa discreta no Rio de Janeiro, o restaurante comandado por Alberto Landgraf conquistou prestígio internacional com discrição e profundidade além de duas estrelas Michelin, presença constante em rankings globais e um lugar reservado entre os nomes mais relevantes da atualidade. Às vésperas de mais uma edição do 50 Best Restaurants Awards, conversamos sobre filosofia, minimalismo, hospitalidade e os valores que moldam sua cozinha.
“O Oteque nasceu de duas grandes viradas na minha vida”, revela o chef. “A primeira foi em 2015, quando fechei meu antigo restaurante, tirei um ano sabático e fui viver no Japão. Lá, vi o que significa respeito, silêncio e precisão. Foi onde entendi que o minimalismo seria o caminho. A segunda foi a pandemia. Ela me fez repensar tudo: o que realmente importa em um restaurante, em uma vida. Não se trata de prêmios, mas de cuidar bem dos outros.”


Essa combinação entre rigor técnico e sutileza emocional permeia toda a experiência no Oteque, desde a reserva até o último gole de vinho. A cozinha aberta, as poucas mesas e o silêncio calculado criam um ambiente íntimo e acolhedor. “Tudo ali tem a minha cara. Da roupa da equipe ao fluxo do serviço, passando pela trilha sonora. Nosso público é jovem, então a música também é leve, casual. Não queremos ensinar nada, só criar um espaço onde cada um viva a sua noite.”
Apesar de operar com um time enxuto, o restaurante entrega uma das experiências mais refinadas da América Latina. E muito disso vem do que Alberto chama de “política da escassez”. “Quando você oferece algo raro, muda a percepção de valor e, no nosso caso, isso também permite um ritmo de trabalho mais sustentável, mais feliz.”
A brasilidade do Oteque está em toda parte, ainda que de forma pouco óbvia. Não se trata apenas de usar tucupi ou castanha. “A cenoura do nosso menu foi plantada por uma família no Brejal, na serra fluminense. Isso também é Brasil. Valorizar o ingrediente é valorizar quem o cultiva. Nossos fornecedores estão todos no site do restaurante, do produtor de pato ao técnico que faz a limpeza do ar-condicionado. Mostrar esses nomes é também mostrar o país.”

Outro capítulo à parte é a carta de vinhos. Com curadoria do sommelier Leonardo Silveira, a seleção inclui rótulos raríssimos, muitos de difícil acesso até mesmo em leilões internacionais. “É um trabalho silencioso, mas que ajudou a projetar o Oteque no mundo dos vinhos. O critério é sempre um só: qualidade.”
Os detalhes do serviço também entregam o nível de refinamento da casa. Em vez de ostentar logotipos, tudo é escolhido com discrição. Dos talheres ao som ambiente, com foco na sensação de elegância silenciosa. O Oteque parece ter criado uma nova categoria: um luxo sensível, onde o que brilha é a intenção por trás de cada escolha.

Durante nossa conversa, Alberto compartilhou uma frase que revela o centro da sua filosofia: “Sabe Re, valorizar as pessoas é tão importante quanto valorizar um ingrediente.” É esse olhar que sustenta a cozinha do Oteque e talvez explique por que tudo ali parece calmo, atento e genuinamente generoso.
No fim, o que o restaurante oferece não é apenas um jantar, mas um entendimento profundo de hospitalidade. “Seja um pedido de noivado, uma reunião de negócios ou um encontro de amigos, o nosso papel é escutar e se adaptar. A experiência não é sobre o que queremos impor, mas sobre o que cada um vem buscar. Isso é hospitalidade: perceber e entregar com precisão e generosidade.”