Nos últimos anos, medicamentos como o Ozempic tornaram-se sinônimo de uma nova era no controle de peso. Inicialmente desenvolvidos para tratar o diabetes tipo 2, os agonistas do receptor GLP-1 — como a Semaglutida presente no Ozempic e seus similares Mounjaro e Tirzepatida — ganharam destaque por proporcionarem uma perda de peso rápida e eficaz. Mas o que muitos usuários não esperavam era que o sucesso na balança poderia vir acompanhado de um efeito estético indesejado: a perda de volume facial.
Apelidado informalmente de “Ozempic Face”, o fenômeno tem sido cada vez mais observado por cirurgiões plásticos ao redor do mundo. Segundo a American Academy of Facial Plastic and Reconstructive Surgery, cerca de 60% dos especialistas relatam um aumento no número de pacientes buscando soluções para amenizar a aparência encovada e envelhecida provocada pela rápida perda de gordura facial.
Uma consequência visível
“O ‘rosto Ozempic’ é essencialmente o esvaziamento estrutural do rosto, consequência direta da perda rápida de peso”, explica o Dr. Lyle Leipziger, chefe de cirurgia plástica do North Shore University Hospital, em Nova York. “A redução abrupta no volume facial leva à flacidez dos tecidos e à aparência prematuramente envelhecida.”
Ainda que a perda de peso represente um marco importante na saúde de muitos pacientes, ela pode ter implicações inesperadas na harmonia estética, especialmente para quem inicia o tratamento após os 50 anos, quando a elasticidade da pele já está naturalmente reduzida. “O espelho pode não refletir a mesma satisfação que a balança”, resume Leipziger.
A importância do ritmo
A recomendação dos especialistas é clara: o processo de emagrecimento deve ser progressivo. Segundo Leipziger, desacelerar a perda de peso permite que a pele tenha mais tempo para se readaptar, reduzindo os impactos visuais negativos. Para quem já nota sinais do “rosto Ozempic”, tratamentos preventivos e corretivos não cirúrgicos oferecem resultados promissores.
Entre as soluções mais indicadas estão os preenchimentos com ácido hialurônico, como Juvéderm e Restylane, que repõem o volume perdido com precisão e naturalidade. “Ao acompanhar o ritmo da perda de peso com pequenas intervenções, é possível preservar uma aparência jovem e descansada”, afirma o cirurgião.

Rejuvenescimento sem bisturi
Além dos preenchimentos, procedimentos como o microagulhamento com radiofrequência ganham espaço na rotina estética dos pacientes em tratamento com GLP-1. A técnica estimula a produção de colágeno, melhora a textura da pele e promove leve efeito lifting — sobretudo quando combinada com terapias por ultrassom, como o Sofwave.
“Essas abordagens minimamente invasivas são ideais para casos leves a moderados, quando ainda é possível tratar a flacidez e perda de volume de forma conservadora”, observa o Dr. Kenneth Mark, dermatologista com clínicas em Nova York e Aspen. Para ele, o uso de colágeno oral também pode colaborar para a saúde da derme, oferecendo um reforço interno à estrutura da pele.
Quando a cirurgia é necessária
Entretanto, para quadros mais avançados de flacidez e envelhecimento facial, a cirurgia continua sendo a alternativa mais eficaz. “O lifting facial moderno é mais do que um procedimento de tração”, explica Leipziger. “Ele envolve também o reposicionamento dos tecidos, a restauração do volume com enxerto de gordura e o redesenho natural das formas faciais.”
A Dra. Bianca Molina, cirurgiã plástica baseada em Nova York, complementa: “Em muitos casos, realizamos o enxerto de gordura retirado do abdômen ou da parte interna das coxas, aplicando-o estrategicamente nas maçãs do rosto e têmporas para restaurar o contorno perdido.” Para ela, a cirurgia plástica facial, quando bem planejada, é uma ferramenta de transformação sutil e refinada — e não de alteração radical.
A estética como obra em progresso
O Dr. Mark, conhecido por sua abordagem artística à dermatologia estética, destaca que cada rosto deve ser tratado como uma composição única. “Com as tecnologias e os produtos que temos hoje, conseguimos resultados extremamente naturais quando aplicamos preenchimentos em camadas e em diferentes profundidades”, afirma. Ele também recomenda o uso estratégico de Voluma para realçar as maçãs do rosto e Volux para definir a linha mandibular, proporcionando estrutura e elevação ao perfil facial.

Segundo Mark, a chave está na moderação: “Todos nós perdemos gordura, colágeno e densidade óssea com o passar do tempo. Um pouco de emagrecimento pode rejuvenescer, mas o excesso, sem acompanhamento adequado, pode ter o efeito oposto.”
A beleza que acompanha a saúde
À medida que medicamentos como Ozempic se consolidam como aliados importantes na luta contra a obesidade e o diabetes, a discussão sobre seus efeitos colaterais visuais passa a ocupar um espaço legítimo — e necessário — na medicina estética contemporânea. Afinal, sentir-se bem com o próprio reflexo é parte essencial do bem-estar integral.
Cuidar do rosto durante a jornada de emagrecimento é, antes de tudo, um gesto de equilíbrio entre saúde e autoestima. E com a orientação adequada, é possível alcançar ambos — sem precisar escolher entre um corpo mais leve e um semblante vibrante.