A final dos 100 metros rasos feminino, um dos eventos mais aguardados das Olimpíadas de Paris, ocorrerá no próximo sábado, às 21h20, no horário de Brasília. A competição promete ser emocionante, especialmente com a presença da velocista norte-americana Sha’Carri Richardson. Richardson, que faz sua estreia em Jogos Olímpicos, foi desclassificada das Olimpíadas de Tóquio após vencer a seletiva dos Estados Unidos com um tempo impressionante de 10,86 segundos. A suspensão da atleta, motivada por um teste positivo para THC, composto químico presente na cannabis, trouxe à tona discussões importantes sobre o uso de substâncias proibidas em esportes de alto rendimento.
O caso de Richardson, que justificou o uso de cannabis como uma forma de lidar com o luto pela morte de sua mãe, reacendeu o debate sobre a influência de substâncias derivadas da planta cannabis sativa no desempenho de atletas. A Agência Mundial Antidoping (WADA) manteve o THC na lista de substâncias proibidas, apesar de liberar o uso de canabidiol (CBD), que não possui propriedades psicoativas. Especialistas, como a Dra. Mariana Maciel, da farmacêutica canadense Thronus Medical, argumentam que não há evidências conclusivas de que o THC ofereça vantagem esportiva. Segundo ela, o uso da substância pode ser prejudicial, afetando a coordenação motora e aumentando o tempo de reação, além de outros efeitos adversos como sonolência e dificuldade de concentração.
O tratamento com CBD, por outro lado, tem sido apontado como uma alternativa terapêutica promissora para atletas. A Dra. Maciel destaca que o CBD pode oferecer “vantagens indiretas”, como o alívio da dor e da inflamação, e uma opção aos anti-inflamatórios não esteroides, opióides ou corticosteroides. O canabidiol possui propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, auxiliando na recuperação muscular e funcional. A especialista ressalta que, embora a inflamação seja um componente natural do processo de reparação, o excesso pode prolongar a dor e retardar a recuperação.
Além dos aspectos relacionados ao desempenho esportivo, o uso de derivados de cannabis no manejo do luto também foi tema de discussão. Estudos indicam que o CBD pode ser eficaz no tratamento de condições como depressão, ansiedade, transtornos do humor e insônia, frequentemente associadas ao processo de luto. A modulação dos receptores CB1 no sistema nervoso central parece ser um dos mecanismos pelos quais o CBD exerce esses efeitos terapêuticos. No entanto, a resposta ao THC pode variar amplamente entre indivíduos, podendo tanto proporcionar alívio quanto agravar a ansiedade em algumas pessoas, tornando essencial o acompanhamento médico.
O futuro da regulamentação do THC no esporte ainda é incerto. A Dra. Mariana Maciel pondera que, embora o THC permaneça na lista de substâncias proibidas da WADA, as mudanças nas leis e percepções sociais sobre a cannabis podem influenciar futuras revisões das políticas antidoping. Ligas esportivas independentes, como a NBA e a MLB, já adotaram posturas mais permissivas, não considerando o THC como doping. Essas variações nas políticas de substâncias mostram a complexidade e a evolução do debate sobre o uso de cannabis no esporte de alto rendimento.