Durante anos, o Jeep Commander habitou um curioso espaço no mercado brasileiro. Posicionado acima do Compass, com dimensões generosas, três fileiras de bancos e um apelo familiar evidente, o SUV de sete lugares sempre teve uma proposta clara. O que lhe faltava era apenas uma mecânica à altura dessa ambição. O motor 1.3 turbo, compartilhado com o Compass, simplesmente não entregava o desempenho compatível com seu porte. Já o 2.0 turbodiesel, embora mais apropriado, não agradava todos os públicos — em especial os que evitam o diesel por conveniência, consumo ou imagem.
Agora, com a chegada do Commander Blackhawk 2.0T, equipado com o motor Hurricane 4 de 272 cavalos, a história muda — e ganha contornos decididamente mais interessantes.
A força do furacão
O Hurricane 4 é um nome familiar para os entusiastas norte-americanos. Desenvolvido para equipar modelos icônicos como o Wrangler e o Grand Cherokee, o motor a gasolina traz uma configuração moderna: quatro cilindros, turbo, injeção direta e comando variável duplo. Aqui, entrega seus 272 cv a 5.200 rpm e torque de 40,8 kgfm a 3.000 rpm — tudo acompanhado de um câmbio automático de nove marchas e tração integral sob demanda.


No Compass, esse conjunto pode soar como exagero. Mas no Commander, com seus 1.886 kg em ordem de marcha, sete lugares e capacidade para longas viagens, o novo conjunto mecânico se encaixa com coerência e propósito.
Não se trata de um SUV esportivo — nem finge ser. O Blackhawk veste um figurino ligeiramente mais agressivo, com rodas de 19 polegadas, pinças de freio vermelhas e detalhes em preto brilhante. Mas sua vocação ainda é estradeira, voltada ao conforto, à segurança e ao transporte de famílias ou executivos exigentes, que querem espaço, robustez e discrição.
Na cidade: suave, mas sem pressa
O uso urbano revela a principal característica da calibração: suavidade. A aceleração é propositalmente moderada nos primeiros metros, o câmbio tende a iniciar as saídas em segunda marcha, e o turbo leva seu tempo para entregar os 40,8 kgfm de torque. O chamado “turbolag” está presente, como em quase todo motor sobrealimentado sem assistência elétrica

Esse comportamento mais dócil não é um defeito, e sim uma escolha. O Commander foi pensado para oferecer conforto em detrimento de respostas imediatas — e isso se reflete na condução cotidiana. A cabine é silenciosa, o rodar é filtrado e o carro transmite solidez. Mas, quando exigido, ele responde: basta um pouco mais de pressão no acelerador para que os 272 cavalos entrem em cena e façam o SUV ganhar velocidade com autoridade.


O consumo urbano, por sua vez, exige certa complacência. Em nosso trajeto padrão, o Commander marcou cerca de 7,0 km/l com gasolina — um número dentro do esperado para o porte, peso e proposta do veículo, mas que evidencia a ausência de eletrificação. Em tempos de híbridos e elétricos, essa característica o torna uma exceção, não uma regra.
Nas rodovias: onde ele brilha
É nas estradas que o Blackhawk mostra sua melhor face. Em nono marcha e baixa rotação, o SUV desliza com serenidade, isolando os ocupantes das irregularidades do asfalto e mantendo silêncio absoluto na cabine. O novo motor brilha nas retomadas: de 80 a 120 km/h em 4,7 segundos, um desempenho que traduz segurança em ultrapassagens e vigor em qualquer situação de tráfego.
A suspensão independente nas quatro rodas contribui para a estabilidade em velocidades mais elevadas, sem sacrificar o conforto. O acerto dinâmico é maduro, bem resolvido e transmite confiança ao motorista.

A aceleração de 0 a 100 km/h, feita em 7,3 segundos, impressiona, sobretudo quando consideramos o peso e a proposta familiar. E mesmo com esse desempenho, o consumo rodoviário é razoável: 13,4 km/l, também com gasolina. É mais eficiente do que muitos esperariam de um SUV desse porte sem tecnologia híbrida.
Vida a bordo: bem resolvida
O interior do Commander Blackhawk reafirma seu posicionamento. Os materiais são agradáveis ao toque, há couro de qualidade nos bancos e um acabamento que, embora não alcance o refinamento artesanal de alguns alemães, convence com facilidade.
O espaço interno continua sendo um de seus grandes trunfos. Quatro adultos viajam com folga e conforto, mesmo em longos trajetos. O quinto passageiro encontra espaço razoável, desde que não seja muito corpulento. A terceira fileira, como de praxe, é mais limitada e ideal para crianças ou trajetos curtos.
O porta-malas, com 661 litros na configuração de cinco lugares, permite viagens longas com tranquilidade. Quando todos os sete bancos estão erguidos, a capacidade cai para 233 litros — ainda respeitável se considerarmos o padrão da categoria.

O pacote de tecnologia e assistência também evoluiu. A versão Blackhawk traz um novo sistema de assistência de permanência em faixa que atua em conjunto com o piloto automático adaptativo, além de alerta de colisão com frenagem automática, câmera 360°, som premium Harman-Kardon e bancos elétricos com memória para o motorista.
Uma alternativa com sotaque americano
O Commander Blackhawk é um SUV interessante por fugir dos arquétipos atuais do mercado. Em um cenário dominado por eletrificação e minimalismo, ele se mantém fiel a uma receita mais tradicional: motor a combustão potente, porte robusto, tração integral e uma presença que inspira respeito sem chamar atenção demais.
É discreto, espaçoso, familiar e — finalmente — tem um desempenho que condiz com sua estatura. Sua proposta agrada não só aos que precisam de espaço e segurança, mas também aos que valorizam conforto e desempenho sem abrir mão de uma certa sobriedade estética.
Num mundo onde muitos SUVs estão tentando parecer cupês, o Commander ainda se parece com um Jeep — e há, definitivamente, valor nisso.