Na reta final do mês da moda, Nicolas Ghesquière surpreendeu ao convidar seu público para uma viagem através do tempo e do estilo. Para apresentar sua coleção de outono 2025 da Louis Vuitton, o diretor criativo deixou para trás os cenários clássicos da maison e desembarcou em L’Étoile du Nord, antiga sede de uma companhia ferroviária que precede a rede nacional de trens da França. Uma escolha poética e carregada de simbolismo: tal como os trilhos que conectam destinos, a moda de Ghesquière atravessa décadas, estéticas e emoções, criando interseções entre passado e futuro.
“Comecei com a ideia de algo muito coletivo, que é a plataforma de uma estação de trem”, revelou Ghesquière. “Onde pessoas se encontram, se despedem, se reencontram, onde pequenos momentos podem se tornar inesquecíveis”. Essa visão inspirou uma coleção que captura a essência da transitoriedade, transitando entre estéticas e influências do cinema. Para compor a narrativa visual, o estilista pediu a sua equipe uma lista de filmes memoráveis ambientados em trens. Seu próprio repertório incluía 2046, de Wong Kar Wai; O Expresso do Amanhã (Snowpiercer); Desencanto, um film noir dos anos 1940; Casablanca e o drama francês Ceux Qui M’aiment Prendront Le Train, que retrata a jornada de volta ao lar. Os integrantes mais jovens da equipe trouxeram referências contemporâneas, como Jogos Vorazes e Harry Potter. O resultado foi uma fusão de tempos e olhares, com personagens imaginários que transitavam pela passarela como passageiros de uma mesma estação, mas com destinos distintos.
Não se tratava apenas de roupas, mas de figuras que habitam um universo ferroviário imaginário. Alguns viajantes estavam a caminho de casa, em combinações que mesclavam o urbano ao rústico; outros se preparavam para uma aventura ao ar livre, com casacos volumosos e bolsas utilitárias. Havia os passageiros do lendário Orient Express, ostentando veludos dévoré pintados à mão, e os passageiros diários, práticos e elegantes, carregando malas rígidas em couro. O desfile também celebrou o universo ferroviário de forma mais literal: um uniforme reinterpretado do TGV, com macacão e gravata solta, evocava a lembrança do próprio Ghesquière quando presenciou a inauguração do trem de alta velocidade na infância. Mas o toque mais surpreendente veio com a colaboração especial com o grupo alemão Kraftwerk, icônico por seu hit de 1977 Trans-Europe Express. A banda participou do desfile com uma pequena edição de roupas e bolsas exclusivas, enquanto sua música embalava a chegada do público ao local.
Conhecido por suas justaposições inesperadas, Ghesquière manteve sua assinatura criativa, mas desta vez com uma abordagem mais tangível e usável. Blusas e vestidos adornados com cristais surgiam com a suavidade de uma camiseta de algodão, enquanto jaquetas militares, lavadas e desbotadas, ganhavam novas dimensões com cores mutáveis e ricas. No clímax do desfile, em vez do tradicional grand finale, as modelos subiram para as sacadas do espaço, observando o desfile junto ao público. Durante toda a apresentação, as janelas funcionaram como telas, projetando imagens de viajantes que cruzavam caminhos, ora em direções opostas, ora seguindo juntos. “As modelos assistirão ao desfile com vocês”, declarou Ghesquière. “Não há separação. Estamos todos juntos. Isso é o que importa”. Mais do que uma simples coleção, a Louis Vuitton Outono 2025 foi um manifesto sobre conexões humanas, deslocamentos e memórias costuradas pelo tempo. E, assim, Ghesquière nos lembrou que a moda, tal como uma viagem de trem, é um percurso de descobertas, encontros e transformações.











