Esta foi a primeira vez que um filme de língua não inglesa ganhou um Óscar na categoria de Melhor Filme. Mas Parasita não ficou por aqui. O filme de Bong Joon Ho arrecadou ainda os prémios na categoria de Melhor Roteiro Original, Melhor Diretor e Melhor Filme Internacional. “Estou sem palavras”, confessou Bong Joon Ho na 92ª edição dos Oscar. “Nunca imaginamos que isto alguma vez acontecesse. Estamos tão felizes. Sinto que é um momento muito oportuno na história que está acontecendo neste momento”.
No ano em que vários nomes reforçaram a urgência de diminuir as desigualdades dentro da Academia, as vitórias do Parasita resultaram numa maior inclusão, da qual muitos críticos de Hollywood já tinham mencionado. “Aplaudo e apoio a direção pelo que esta nova mudança simboliza”, rematou Bong Joon Ho.
“Escrever um roteiro é um processo muito solitário, nunca escrevemos para representar o nosso país – mas este é o primeiro Óscar da Coreia do Sul”, discursou Bong Joon Ho, enquanto levantava com brio a estatueta de Melhor Filme Internacional. A categoria, que mudou de nome este ano, foi um ponto mencionado pelo diretor. “Eu aplaudo e apoio a nova direção que esta mudança simboliza”. E foi assim que a Coreia do Sul entrou diretamente para a história dos Prêmios da Academia, ganhando espaço para uma conversa que desafia gêneros e padrões atuais.
Quando Bong subiu uma vez mais ao palco para aceitar o Óscar de Melhor Diretor, este confessou que depois de ter ganho na categoria de Melhor Filme Internacional, estava já pronto para relaxar. No entanto, não demorou muito tempo até que o diretor nos voltasse a presentear com mais uma discurso célebre sobre aqueles que lhe serviram de fonte de inspiração.
“Quando eu estava na escola, eu estudei os filmes de Martin Scorsese. Só ser nomeado foi uma grande honra”, confessou. “Quando as pessoas nos Estados Unidos não estavam familiarizadas com os meus filmes, Quentin [Tarantino] colocou sempre os meus filmes na sua lista”, disse Bong, relativamente aos realizadores que sempre admirou e que estavam presentes na sala.
O filme sul-coreano segue os caminhos de duas famílias – uma rica e outra pobre -, que se cruzam. As interações que ambas desenvolvem ao longo do filme acabam por ser um reflexo das diferenças sociais existentes entre elas, assim como os problemas de classes. A primeira família, Kit-taek, está desempregada e vivem num porão apertado. Mais tarde, o filho adolescente desta mesma família arranja trabalho como professor de inglês na casa da família rica. Quando este se apercebe que os donos da casa procuram uma professora de artes para o filho mais novo, Ki-woo sugere a sua própria irmã, mas sem nunca mencionar o grau de parentesco.
O filme do realizador Bong Joon Ho tem tanto de trágico como de divertido, e é um especial retrato da sociedade atual e da diferença de classes, onde o pai, a mãe e os filhos fazem de tudo para entrar na vida de outra família, pelo meio de segredos e mentiras necessárias a uma possível ascensão social.
O filme surgiu através da ideia de que Bong Joon Ho tem sobre as pessoas gostarem de espionar e infiltrar-se na vida privada dos outros. Persuadido pela sua namorada na adolescência (que agora é sua esposa), o realizador arranjou um trabalho como professor de matemática numa família rica, de forma a conseguir organizar a sua vida financeira. Durante a sua experiência que durou apenas alguns meses, Bong Joon Ho observou uma evidente discriminação de classes – tema que decidiu incluir e abordar aos detalhes no decorrer de seu filme.