O último desfile desta temporada da Fashion Week de Paris também foi o último desfile do lendário estilista Jean Paul Gaultier. No elegante teatro musical de Châtelet, com orquestra e cantores ao vivo, o antes “enfant terrible” da moda apresentou mais de 200 looks num ambiente de euforia, com modelos sorridentes e exageradas, além de um público que aplaudiu com entusiasmo por mais de uma hora.
O estilista, de 67 anos, anunciou na última sexta-feira, apanhando o mundo de surpresa, que este seria seu último desfile, mas garantiu que a sua marca, propriedade do grupo espanhol Puig, continuará com um projeto que será anunciado brevemente e do qual é um “instigador”.
“A moda tem que mudar”
“Acredito que a moda tem que mudar. Há muitas roupas, roupas que não servem para nada. Não as joguem fora, reciclem”, diz Gaultier numa nota distribuída entre o público, explicando pelo menos de forma parcial a sua decisão de colocar um ponto final nos seus desfiles. “Esta noite, verão minha primeira coleção de alta costura “upcycling”; abri as gavetas”, acrescentou, citando a técnica que consiste em utilizar peças antigas e dar-lhes nova vida.
Antes de Rossy de Palma, Mylene Farmer e as irmãs Bella e Gigi Hadid desembarcarem na passarela usando as últimas criações com base de jeans, cintos de couro, seda e tule, o desfile começou com a representação de um funeral, com modelos em looks pretos totalmente estáticas. Com banda sonora de Boy George, um caixão entrou no cenário com dois seios cónicos presos na tampa. Uma coroa de flores dizia “Moda para sempre”. No final do desfile, uma tela mostrava os bastidores e Gaultier que cercado pelos seus colaboradores, acabou por ser levado aos ombros pela passarela.
“Inconformista”
Subversivo e livre, Gaultier é um dos estilistas mais importantes de todos os tempos, e desafiou a a beleza tradicional, incluindo todas as orientações sexuais, nos seus desfiles, muito antes dos demais. Também foi precursor na fusão de gêneros na passarela.
Nos anos 1980, revolucionou a moda com as suas criações geniais, como o corpete cónico usado por Madonna, a saia masculina e a camisa listrada de marinheiro, uma reinterpretação em homenagem à sua avó, que o “vestia de azul”. Gaultier fez dos seus desfiles um mundo aparte: longe do tradicional formato rígido da passarela, montou verdadeiros espetáculos cheios de excentricidade e ousadia, mais próximos de um cabaré.
“Estilista inconformista procura modelos atípicas. Rostos disformes são aceites”, dizia um anúncio que publicou nos jornais nos anos 1980. Convidou para a passarela homens mais velhos, mulheres com excesso de peso e em 2014 colocou na sua passarela a drag queen Conchita Wurst. Vida longa JPG!