Por Luiza Rodas
Há lugares que não apenas servem uma refeição, mas nos oferecem um mergulho profundo na cultura, no tempo e nos sentidos. No coração das colinas do Piemonte, na pitoresca vila de Treiso, descobri um desses refúgios raros: o restaurante La Ciau del Tornavento. Rodeado pelos vinhedos ondulantes da região de Barbaresco, esse templo da gastronomia italiana comandado pelo chef Maurilio Garola, é uma celebração da cozinha local, da hospitalidade e do vinho em seu mais alto nível.


A vista já emociona à chegada. A sala envidraçada do restaurante se abre para um panorama que parece uma pintura: colinas cobertas de vinhas, vilarejos medievais ao
longe e uma luz suave que muda ao longo do dia. A cozinha, com uma estrela Michelin, presta homenagem à tradição piemontesa com pratos que encantam tanto pela simplicidade quanto pela sofisticação. O tajarin com trufas brancas, por exemplo, é um clássico reinventado com leveza e perfeição. O uovo in cocotte, com fonduta de queijo Castelmagno, é puro conforto em forma de arte.



Mas um dos grandes tesouros do La Ciau del Tornavento está abaixo do solo. Descendo uma escada discreta, entra-se em um mundo à parte: uma das adegas mais impressionantes da Europa. Ali repousam mais de 60 mil garrafas cuidadosamente selecionadas, de joias raras a preciosidades históricas. É impossível não se emocionar diante de garrafas de Romanée-Conti, Château d’Yquem, safras míticas de Barolo e Barbaresco, e ícones como Gaja, Giacomo Conterno e Bruno Giacosa. A coleção é uma verdadeira enciclopédia líquida, onde cada garrafa conta uma história, cada rótulo é um capítulo da cultura do vinho.



A adega não é apenas uma coleção de vinhos valiosos ela é uma ode à paciência, ao tempo e à arte de preservar memórias engarrafadas. Os visitantes têm o privilégio de fazer um tour guiado por esse santuário subterrâneo, onde a temperatura, a iluminação e até o silêncio parecem fazer parte de um ritual de reverência ao vinho. É uma experiência quase mística, que transforma qualquer amante da enologia em um eterno apaixonado.

E como se tudo isso não bastasse, o La Ciau del Tornavento ainda surpreende por ser pet-friendly, algo raro em restaurantes de alta gastronomia. Fui recebida com delicadeza, e a Fluffy, minha Maltipoo, foi tratada como uma verdadeira princesa. Ganhou água fresca, mimos especiais e até um kit de presentes personalizado, com biscoitinhos artesanais e um brinquedinho. Um gesto de carinho que revela o cuidado e a elegância em cada detalhe da experiência.


Sentar-se à mesa do La Ciau com uma taça de Barolo envelhecido, servido no momento exato de sua expressão máxima, diante da paisagem que o viu nascer, é algo difícil de colocar em palavras. É o tipo de vivência que transcende o paladar e se instala na memória como um daqueles momentos que sabemos, já enquanto vivemos, que jamais esqueceremos.


La Ciau del Tornavento é mais do que um restaurante: é uma imersão no que o Piemonte tem de mais autêntico, sofisticado e tocante. Um convite à contemplação, ao prazer consciente e ao luxo que não se ostenta — mas se sente, em cada detalhe.
