Primeira pergunta: o que há para contar sobre Nova York que não esteja já documentado em filmes, livros, reportagens, revistas, fotografias de família, seja onde for? Quase nada. Entretando há um lugar que ainda atrai o fascínio dos visitantes na Big Apple, o High Line. Sim, o espaço já foi inaugurado há alguns anos mas ainda continua atraindo milhares de turistas
Idealizado por Piet Oudolf, holandês nascido em 1944 na antiga capital dos Países Baixos, Haarlem – que veio a dar origem a Harlem, bairro originalmente holandês, em Manhattan. Oudolf e os moradores locais se organizaram e impediram o desmantelamento da linha ferroviária que tinha sido desativada em 1980 e estava coberta de lixo e plantas selvagens.
O trabalho não foi assim tão simples, foi preciso muito trabalho, muitos projetos e estudos de viabilidade, e certamente muito lobby, mas a velha linha férrea elevada por onde tinham passado desde 1934 tantos vagões carregados de mercadorias ficou mesmo de pé, mantendo aquelas plataformas à superfície que fazem parte da paisagem da cidade.
Muitos pensaram que iam fazer do novo espaço um jardim monumental, cheio de espécies exóticas, mas não. Tiveram o bom gosto de utilizar as plantas que lá haviam espontaneamente crescido, agora mais organizadas e tratadas. As espécies, sobretudo nativas, foram escolhidas por sua resistência, sustentabilidade e variação de texturas e cores. A ideia de usar espécies nativas mostra a que ponto este passeio público foi pensado ao detalhe e como seu planejamento que têm tanto que ver com o século que vivemos. Sustentabilidade é a palavra-chave neste projeto, em tempo de alterações climáticas e crises a vários níveis.
Visitando a Highline
Iniciamos o percurso subindo uma rampa que permite a passagem de cadeiras de rodas (noutros locais haverá elevadores para esse efeito), no ponto geralmente considerado o término, na Rua W 34, entre as avenidas 10ª e a 12ª. Temos a intenção de ir até à outra ponta e visitar o Whitney Museum, mas isso fica para depois. Dirigimo-nos ao rio, para andarmos um pouco ao longo da margem – e da 12ª Avenida – no frio seco da manhã de inverno.
E aí deparamos com uma quantidade exuberante de vagões de trem, linhas e linhas paralelas que constituem o depósito ferroviário, ao fundo da Penn Station. É uma visão gigantesca e fantástica, e o som dos trens sobrepõe-se ao caos sonoro habitual da cidade. A baixa temperatura não impede que circulem por ali os cuidadores do jardim, devidamente identificados com coletes.
Viramos as costas ao rio e vamos em direção à 10ª Avenida, por cima da Rua W 30, e passamos por pontos de acesso com escadas – como encontraremos em todo o percurso – sobreviventes com décadas de uso. Aqui, a vegetação é apenas a que nasce espontaneamente, numa rudeza que parece convidar-nos a olhar para o rio Hudson e a cidade de New Jersey.
Estamos a caminhar por cima da 10ª Avenida, num longo percurso que nos mostra este lado da cidade, onde novos edifícios substituem os que presumimos que foram desaparecendo. A estrutura das antigas estradas de ferro estão a vista, porém foram trabalhadas de forma acessível para os mais novos. E há mesmo algumas crianças, embrulhadas em casacos e gorros, brincando por ali, em pequenas aventuras de saltos e altos e baixos, perigos imaginários porque tudo está devidamente protegido.
Continuamos a andar mas temos uma área de descanso com bancos de madeira, como se estivéssemos numa estação de trem antiga, e aqui as plantas são mais exuberantes. Nada que ultrapasse as magnólias que nos esperam um pouco mais à frente, numa passagem entre vários edifícios de maior envergadura. Por contraste, passamos depois para a zona nobre Chelsea, cheia de árvores e arbustos, e também aí imaginamos como em meses mais quentes as flores e os cheiros serão convidativos.
Deixamos a floresta e mais à frente temos uma paisagem que se abre sobre o rio novamente e nos mostra a Estátua da Liberdade ao fundo. É sempre bom vê-la, já se sabe, mas deparar com esta visão inesperadamente e enquanto passeamos sem pressa, com toda a carga de história e de atualidade que nos vem à cabeça, é ainda melhor.
Estamos numa zona que foi realmente industrial e isso sente-se nos edifícios de tijolo vermelho. Um pouco à frente, na Chelsea Market Passage, encontramos uma esplanada onde paramos para um café que nos aquece um pouco. Dá para perceber que há aqui atividades culturais. Falta-nos caminhar ainda para chegar ao fim e procurar o Whitney Museum, mas há agora chaises longues de madeira que correm engenhosamente sobre rodas e nos obrigam a uma pausa. E chegamos à zona coberta, sobre a Rua W 14, onde vemos artistas expondo pinturas e fotografias e aproveitamos para comprar boas recordações. Resta-nos ir até à plataforma final que foi cortada abruptamente, estendida no ar para mostrar como todo este passeio podia não existir se o desmantelamento da High Line tivesse sido concretizado. Está na hora de descer para o museu, num edifício desenhado por Renzo Piano, repleto de arte dos séculos XX e XXI e começar outra jornada.
Guia Nova York
Moeda: dólares. O real esta muito desvalorizado em comparação ao dólar. Um real equivale 4,3 vezes um dólar.
Fuso horário: GMT – 5 horas.
Idioma: inglês
Documentos: passaporte com validade mínima de seis meses e visto americano válido
Como ir
A Delta voa diretamente de São Paulo para Nova Iorque a partir de 899 dólares.
Onde ficar
CROSBY STREET HOTEL
Situado numa rua tranquila no coração do vibrante Soho, um dos bairros mais badalados e menos turístico do que muitos outros, este cinco estrelas de design contemporâneo é um verdadeiro luxo. Tem 86 quartos disponíveis, um
pátio interior e um restaurante no terraço, e fica a poucos minutos a pé do metro.
79 CROSBY STREET, NOVA IORQUE
TEL: +1 212 226 6400
QUARTO DUPLO A PARTIR DE 600$
FIRMDALEHOTELS.COM
COMER
GRAMERCY TAVERN
O Gramercy Tavern, um clássico que continua a brilhar em Nova Iorque, é um
restaurante requintado com duas áreas distintas – a taverna, onde é servido um menu mais simples, à la carte, durante o almoço; e a sala de jantar principal, onde há um menu de degustação para experimentar à noite. Aberto todos os dias, das 11h30 às 23h30.
42 E 20TH STREET, NOVA YORK
TEL: +1 212 477 0777
GRAMERCYTAVERN.COM
JONGRO BBQ
O restaurante sul-coreano Jongro BBQ, tal como o nome indica, é especializado em carnes grelhadas (barbecue). A decoração é uma homenagem à antiga Seoul, capital da Coreia do Sul, com uma estrutura de madeira,pilares de tijolos brancos e cartazes de filmes coreanos nas paredes. A comida é boa, as doses são generosas e é bem mais barato do que os restaurantes em Koreatown.
Aberto todos os dias: de domingo a quinta-feira, das 11h30 às 2h; sexta-feira e sábado, das 11h30 às 4h.
22 W. 32ND STREET, NOVA IORQUE
TEL.: +1 212 473 2233
JONGROBBQNY.COM