Nos últimos meses, uma sequência de graves acidentes aéreos reacendeu o debate sobre a segurança na aviação, especialmente por terem ocorrido em solo doméstico nos Estados Unidos. O primeiro incidente foi a colisão no ar entre um jato regional da American Airlines e um helicóptero do Exército em Washington, D.C., resultando na morte de todas as 67 pessoas a bordo. O acidente ocorreu pouco antes de a indústria aérea americana comemorar 16 anos sem um desastre fatal em jatos comerciais, marcando um fim abrupto para um recorde de segurança.
A situação se agravou com dois acidentes fatais envolvendo aviões de pequeno porte, um na Filadélfia e outro no Alasca, totalizando 17 mortes. O choque continuou com um acidente em Toronto, quando um jato regional da Delta Air Lines capotou em uma pista coberta de neve. Notavelmente, todos os 76 passageiros e quatro tripulantes sobreviveram, mas as imagens do acidente intensificaram as preocupações do público sobre a segurança aérea.
Jennifer Homendy, presidente do Conselho Nacional de Segurança no Transporte (NTSB), foi rápida em assegurar aos passageiros que voar continua sendo seguro, ressaltando que mais de 100 americanos morrem diariamente em acidentes de carro, enquanto desastres aéreos são extremamente raros. No entanto, os recentes incidentes levantaram dúvidas sobre a eficácia da regulamentação e da supervisão da aviação.
Especialistas apontam que a razão pela qual acidentes aéreos atraem tanta atenção é justamente a sua raridade. Quando ocorrem, costumam levar a reformas significativas que tornam o sistema ainda mais seguro. Contudo, há preocupações sobre se a indústria e os reguladores federais têm respondido adequadamente a sinais de alerta, como relatos de quase colisões em aeroportos. Para John Goglia, ex-membro do NTSB, os incidentes recentes são um “chamado de alerta” para uma indústria que pode ter se tornado complacente.

O Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Washington, cenário do acidente mais grave, é conhecido por seu espaço aéreo congestionado e pistas curtas, complicando as operações de voo. Apesar disso, legisladores recentemente aprovaram a expansão das operações no local, o que gerou críticas. Após o acidente, o aeroporto implementou novas restrições para voos de helicópteros militares, que estavam operando perigosamente próximos a áreas de tráfego intenso.
A última grande tragédia aérea nos EUA havia ocorrido em 2009, quando um avião regional caiu próximo a Buffalo, Nova York, matando 49 pessoas a bordo e uma no solo. Esse desastre levou a reformas na indústria, incluindo padrões mais rígidos para a formação de pilotos de linhas regionais. No entanto, desafios como a escassez de controladores de tráfego aéreo e a aposentadoria em massa de pilotos durante a pandemia de COVID-19 continuam a afetar o setor.
Apesar das recentes fatalidades, analistas como William J. McGee, do American Economic Liberties Project, ressaltam que voar continua sendo extremamente seguro. Os avanços tecnológicos, como melhorias na navegação e na coordenação das equipes de cabine, reduziram drasticamente o número de acidentes globais. McGee lembra que há gerações de passageiros que nunca experimentaram um período em que desastres aéreos fossem comuns.
Os acidentes recentes, embora trágicos, também são um lembrete da necessidade constante de vigilância e aperfeiçoamento das práticas de segurança na aviação. A expectativa é de que as investigações em andamento tragam à tona novas lições que reforcem ainda mais a segurança de voos comerciais, mantendo o histórico de segurança que fez da aviação um dos meios de transporte mais seguros do mundo.