Em um cenário automotivo cada vez mais dominado por motores eletrificados, SUVs onipresentes e assistentes digitais que medem cada centelha de emoção ao volante, o Ford Mustang GT 2025 ressurge como um manifesto visceral a favor da autenticidade. Ele não é apenas o último representante da era de ouro dos muscle cars americanos — é a personificação de um espírito indomável que desafia as tendências e se recusa a ser silenciado. Enquanto o Camaro se despede em definitivo e o Challenger se transforma em algo completamente diferente, o Mustang permanece fiel à sua essência: motor V8 naturalmente aspirado, tração traseira e uma conexão orgânica entre homem e máquina.
Sob o capô, pulsa a mais recente evolução do consagrado Coyote 5.0 V8. Com novas entradas de ar, corpos de borboleta duplos e um coletor de escape redesenhado, o propulsor entrega 462 cavalos a 7.250 rpm e 550 Nm de torque, embalados por um sistema de escapamento ativo que transforma cada acelerada em um espetáculo auditivo. A versão testada, equipada com câmbio automático com a opção de trocas manuais e seis marchas, reforça o caráter purista do modelo: engates curtos, embreagem firme e previsível, sistema de rev-matching automático e até função flat-foot shifting — tudo pensado para uma experiência de direção envolvente e, acima de tudo, autêntica.


Por fora, o design pode dividir opiniões — mais agressivo, musculoso e menos clássico que a geração anterior — mas é por dentro que o Mustang 2025 revela sua verdadeira evolução. A cabine foi completamente redesenhada e agora ostenta uma dupla de telas digitais: um painel de instrumentos de 12,4 polegadas e uma central multimídia de 13,2 polegadas. Apesar da tendência contemporânea de interfaces digitais, o Mustang acerta ao oferecer uma personalização profunda, incluindo modos de visualização que replicam os mostradores de Mustangs históricos, como os modelos de 1967-68, o Foxbody dos anos 1980 e até o SVT Cobra do início dos anos 2000. Os gráficos são nítidos, responsivos, e permitem ajustar até mesmo as cores primárias e secundárias do cluster — um capricho surpreendente até para os mais exigentes.
Outros detalhes, como o volante com base reta e o Drift Brake eletrônico, ajudam a reforçar a vocação esportiva do interior. Os bancos Recaro de couro são confortáveis e oferecem excelente suporte lateral, embora não tragam aquecimento nem ventilação — uma ausência difícil de justificar considerando o valor do carro. A ergonomia é boa, e a qualidade dos materiais, em clara evolução em relação à geração anterior, aproxima o Mustang de um padrão mais premium, sem abrir mão de sua identidade rebelde.



Na estrada, o Mustang GT mostra por que é um carro pensado para o prazer de dirigir. O V8 entrega sua força com progressividade, mas é acima dos 4.000 giros que o carro realmente revela seu potencial. O câmbio manual potencializa essa entrega, permitindo esticar as marchas com gosto — e com um ronco que enche a cabine como uma orquestra de aço e combustão. Em aceleração, os números impressionam: 0 a 100 km/h em cerca de 5,1 segundos, podendo cair para 4,9 com uma largada mais agressiva. E embora o Mustang seja potente em linha reta, sua performance em curvas também surpreende. Com pneus largos Pirelli P Zero (255 na frente e 275 atrás) e um sistema de controle de tração bem calibrado, o carro transmite segurança mesmo em trechos mais técnicos. Desabilitando as assistências, a traseira mostra sua típica vocação para sair de lado — mas sempre com controle e previsibilidade.
Não se pode ignorar, claro, o peso de quase 1.800 kg. Em curvas mais fechadas, ele se faz notar. Mas o Mustang compensa com equilíbrio de chassi, respostas consistentes da direção e um acerto de suspensão que privilegia o prazer de condução sem sacrificar o conforto. O consumo, como era de se esperar, não é dos melhores: médias de 16,5 l/100 km em uso urbano e cerca de 7,3 l/100 km em rodovias, o que demonstra certa eficiência do V8 em condições constantes. Um ponto negativo fica para o sistema de frenagem automática de emergência, que se mostrou excessivamente sensível durante o teste, chegando a causar uma quase colisão em baixa velocidade — algo que requer atenção, mas não ofusca o brilho geral da experiência.

O Mustang GT 2025 não é um carro para todos. Ele não se preocupa em ser o mais eficiente, o mais tecnológico ou o mais discreto. Ele se orgulha em ser um sobrevivente — um esportivo que vibra com cada giro, que transforma estradas em pistas e que ainda acredita que dirigir é uma arte, não uma mera função. Em uma era em que o silêncio dos motores elétricos se aproxima como um inevitável futuro, o Mustang é um rugido que resiste. Um lembrete, em forma de máquina, de que a paixão ao volante ainda tem lugar no mundo.