O início da reabertura do varejo físico após a quarentena na China trouxe de volta o chamado revenge spending (algo como consumo por vingança), fenômeno de consumo com origem no próprio país asiático, caracterizado pelos gastos acima da média após períodos de demanda reprimida. O termo foi cunhado nos anos 1980, após a abertura econômica da China, que foi acompanhada pelo crescimento vertiginoso do consumo entre as classes altas nas metrópoles. “O fenômeno do revenge spending é característico do chinês, normalmente muito consumista. Essa retomada forte do consumo por lá não é um indicativo de que o mesmo acontecerá em outras regiões do mundo com o encerramento da quarentena”, afirma Fábio Mariano Borges, professor do Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor da ESPM SP.
De acordo com Borges, o revenge spending é caracterizado pelo consumo de nicho do mercado de luxo, menos afetado pela crise econômica na comparação com os segmentos de classe média e baixa. “O comportamento do consumidor de luxo em relação aos demais segmentos é diferente tanto na crise quanto em tempos de normalidade. Duas características importantes desse nicho jogam contra o revenge spending no varejo físico: a alta digitalização do consumo e o crescente atendimento presencial de muitas marcas nas próprias residências dos clientes”, afirma.
Segundo Borges, a extensão de uma corrida pelo consumo de ocasião para outros nichos após a quarentena dependerá diretamente da estratégia das lojas físicas para atrair o consumidor. “O desejo de compra do consumidor não é irracional. Essa dinâmica não depende somente da demanda reprimida durante a quarentena, mas da extensão dos estímulos que serão oferecidos pelas próprias lojas físicas após esse momento. A vontade de comprar na loja física responderá a uma estratégia do próprio varejo em estimular esse consumo.”