Em tempos em que viajar parece cada vez mais uma maratona de estímulos, filas e notificações incessantes, Gwyneth Paltrow propõe uma abordagem distinta — quase meditativa — para se estar no mundo. Atriz, empresária e fundadora da Goop, ela tem transformado suas vivências em verdadeiros rituais de presença. Em sua mais recente colaboração, a instalação The Forest Within, montada no Genesis House no Meatpacking District, em Nova York, Paltrow oferece uma espécie de refúgio sensorial urbano, fundindo natureza, tecnologia e bem-estar em uma experiência imersiva.
Mais do que um exercício de estilo, a instalação reflete uma inquietação contemporânea. “Estamos em um momento de inflexão cultural, com excesso de informações o tempo todo. Nossos sistemas nervosos não foram feitos para isso”, afirmou, durante a inauguração. O projeto — adornado por peônias, pedras iluminadas por LED e o aroma de chuva na terra — convida à pausa, ao silêncio e ao reencontro consigo mesmo. Uma meditação guiada com sua voz conduz os visitantes a esse mergulho interior. “Mesmo em Nova York, é possível encontrar um espaço de quietude”, completa.
Essa busca pelo equilíbrio não se restringe aos projetos artísticos. Ela também permeia sua maneira de explorar o mundo. Para Paltrow, a chave está em aceitar a imprevisibilidade. “Entro na viagem com a mentalidade de que talvez nada saia como planejado — e tudo bem. Vamos tentar seguir o fluxo”, diz. Uma filosofia testada em situações pouco idílicas, como quando ficou seis horas presa no Eurostar com os filhos pequenos. “Você pode enlouquecer ou pode escolher manter a calma. Perder a cabeça, ali, não ajudaria ninguém.”
Sua forma de lidar com deslocamentos inclui o que chama de rituais de ancoragem. O mais importante? Caminhar. “Sempre prefiro andar. Uma vez, na França, um guia me disse: ‘A caminhada une o corpo e a alma’. Achei tão verdadeiro”, recorda. Caminhar, para ela, é mais do que deslocar-se: é a possibilidade de se perder para se encontrar. Foi assim que, num passeio despretensioso por Roma com o marido, Brad Falchuk, acabou descobrindo ruínas medievais escondidas sob fachadas modernas. “Foi um daqueles achados que parecem presentes do acaso”, diz, sorrindo.
Outro cuidado essencial é a hidratação constante, acompanhada da decisão de evitar excessos gastronômicos nas primeiras horas em um novo fuso horário. “Deixo para explorar os vinhos e comidas locais quando já estou ajustada ao tempo do lugar”, explica.
Mas é quando fala de lugares que considera verdadeiros santuários que seu tom se transforma. A Itália ocupa um espaço especial em seu imaginário. “Passamos os verões na Úmbria. É rústico, selvagem, e profundamente pacífico”, revela. A conexão com a natureza, ali, é quase espiritual. “Tem algo de indomado, com oliveiras e animais soltos pelos campos. Eu me sinto maravilhosamente insignificante naquele cenário.”
A atriz distingue com clareza os tipos de natureza que a tocam. “A floresta é gentil, silenciosa, acolhedora. Já a costa da Califórnia é quase hostil — as ondas são fortes, o mar é frio, e há uma beleza bruta nisso tudo. Gosto dessa força inóspita.”
Apesar do currículo de viajante experiente, Paltrow ainda guarda destinos na lista de desejos. “Nunca fui à Coreia, e morro de vontade. Amo comida coreana”, confessa. “E só conheço Tóquio. Quero muito explorar as ilhas do Japão.”
Sua instalação The Forest Within, aberta ao público até 29 de junho, é uma tentativa de traduzir essa essência — e um convite para que cada um crie seu próprio refúgio. “Basta um canto na natureza, uma música, um poema ou mesmo deitar-se na grama. Não custa nada e pode mudar tudo.”
E quando se trata de incluir os filhos nessas jornadas, ela oferece um conselho prático, moldado por sua própria infância. “Sempre levei meus filhos comigo, sem muita frescura. Meu pai dizia: ‘Você está no horário que está’. Estávamos caindo de sono, e ele decidia nos levar ao Pompidou. Isso me marcou.”
Para Gwyneth Paltrow, viajar é menos sobre o destino e mais sobre o estado de espírito. É estar aberta ao imprevisto, caminhar sem rumo, beber da cultura local com moderação e, acima de tudo, preservar a calma como uma escolha. Porque, como ela mesma diz, o caos é inevitável — mas a serenidade é uma decisão.