Estive na terceira etapa da Mitsubish Cup 2021 e pude provar o porque ela émuito mais que uma competição
Tudo começa na sexta feira quando as equipes levam para o local da corrida, no caso o Autódromo Velocitá, os veículos que participarão da nova etapa da competição. Atenção, ali não entra sem fazer o teste do Covid-19. O que deixa todos mais à vontade para participar do evento. No horário do almoço grande parte das equipes já está instalada e trabalhando nos veículos. Na Mitsubishi Cup participam somente veículos preparados para a competição, então por mais que por fora veja modelos de rua como Outlander Sport e L200, por dentro é outra história. Grande parte do veículo é em fibra, o vidro das janelas substituído, suspensão reforçada e motor com um pouco mais de potência liberada. Já por dentro, dois bancos estilo concha nos quais você será literalmente encaixado na hora da corrida. Ao redor, a gaiola para proteger dos possíveis erros na curva. Nessa corrida também estão os veículos protótipo, a categoria mais veloz da competição, esses completamente desenvolvidos para o rally.
A tarde começa a cair e pilotos e navegadores são reunidos para um briefing, alí os horários de cada categoria são passados e navegadores pegam os planos da corrida. Começam os alertas sobre alguns pontos críticos, zonas de radar (sim, eles colocam equipamentos para medir a velocidade que nesses trechos tem a máxima indicada, e quem ultrapassa-la será penalizado). Mais alguns avisos como um precipício de 40m à direita de uma curva, ou um poço bem ao lado de outra entrada. Normal, né. Todos acostumadíssimos, a partir para acelerar sem ter noção do trajeto a ser percorrido. Sabendo que eu estaria pilotando, não podia deixar de pensar no câmbio manual, há anos, e muitos anos que não saia em um assim, você pode imaginar a minha cara. A noite chega e parece um grande encontro, competidores de diversas equipes cumprimentam-se e jantam juntos, falam sobre etapas anteriores e aproveitam muito a comida que dessa vez inclui churrasco preparado pelo assador mineiro Mario Portela juntamente com André Marques. A banda segue com músicas brasileiras, mas com o passar das horas a maior parte das equipes vai deixando a festa para estar preparado para a manhã seguinte, as famílias aproveitam um pouco mais.
Sábado chega e não deu para parar de pensar que em pouco tempo serei responsável também pela vida do meu navegador e olhos do trajeto, Leo Magalhaes.
Vou a bordo do Outlander Sport cujo banco começa a ser ajustado para o meu corpo. Altura, inclinação, e distância são corrigidos pouco a pouco para que esteja na posição perfeita para acelerar. Esse veículo é preparado pela Spinelli Racing, e é uma das opções para quem quer participar do rally mas não poderá cuidar do preparo do veículo, dessa forma é só chegar e correr. Guiga Spinelli obviamente está na competição, e já dá a dica: na pista faça o que o navegador falar e pise fundo para se divertir.
Completamente vestida vamos à primeira missão, prender o cinto em todos os pontos e ser comprimida ao banco, tudo por segurança. Com áudio e microfone ligados ao carro chega hora da partida. André Marques sai na frente e depois de deixar morrer, aproveito a vista da saída desse autódromo. A largada será já na fazenda nunca antes presente no circuito, com intervalo de 1:30min do veiculo à frente. Chegou a hora de competir comigo. O começo é tenso, mas assim que eu e meu navegador nos entendemos quanto a direcionamento e ele percebe que não tenho medo de pisar perto da curva, o nível de diversão é crescente. Seguimos por 15km de terra, passando por lombas (lombadas na terra) que fazem o carro dar aquela levantada, depois de ver que o carro nem percebeu a primeira, você começa a ir sem dó. Trechos de pedregulhos fazem as curvas ganharem uma leve escorregada entre as incontáveis curvas propostas. Um gancho para direita (curva mais fechada que 90º) e uma reta de alguns quilômetros na qual vamos passando dos 80km/h. A cana baixa permite nas curvas suaves e seguidas contemplar um pouco da fazenda. Curva a esquerda na chegada às arvores e voltamos a atenção ao terreno que mais uma vez mudou, agora a terra mais fofa requer atenção, em especial na curva próxima as arvores onde vira barro. Uma pequena desacelerada e já escuto do navegador que esse tipo de trecho costuma ter carros visitando os troncos das arvores. Passamos pela zona mais coberta de grama e em alguns quilômetros e completamos a terceira etapa da competição. A primeira frase que sai da minha boca é: “Mas já acabou? Fizemos o trajeto completo né?” Leo dá uma risada e dispara:” para quem estava com receio de não fazer nem meio trajeto, acho que gostou.”
Se gostei? Amei! Sai com vontade de comprar um carro mecânico para treinar e voltar completamente preparada, enfiando o pé numa próxima etapa. Eu já havia ouvido de amigos sobre o quanto gostavam do rally, mas confesso que não imaginava o tanto que me surpreenderia. Voce não tem carros ao lado disputando, mas a competição fica latente. A cada curva a vontade de ser mais rápido aumenta.
De volta ao box a vontade é de ficar no carro. No período da tarde, outra rodada é seguida pela premiação. No pódio estão homens, mulheres, pais e filhos, amigos, idades e cidades variadas aplaudidos por amigos, esposas, filhos, netos e até participação do cachorro. A noite chega e a confraternização é completada por uma festa “julina” com direito a chapéu, toro mecânico, brincadeiras muitas comidas e uma dupla tocando ao vivo. Ao fundo da fogueira o sol se despede enquanto nós que tivemos essa chance de pilotar só pensamos em quando correremos de novo.
Se você não corre, saiba que aproveita e muito a Mitsubishi Cup
Não é só nos pilotos e navegadores que a Cup pensa, quem não vai correr, ou enquanto não corre há muito o que fazer. Andar pelo autódromo, levar bikes para pedalar, patinetes, e até drones para fazer imagens incríveis. Também pode dar uma volta na pista a bordo do Lancer, competir nos simuladores ou voltar ao passado no museu que conta um bom número de lendas. Para os homens cortes de cabelo são colocados em dia. A cada etapa um local novo para ver enquanto bate papo, brinca com as crianças ou passeia com seu filho de quatro patas.
Participar não é impossível como voce pode pensar. A Mitsubishi Cup requer carros preparados especialmente para o rally e voce pode participar de duas formas: com uma equipe formada por voce, um veículo adquirido e a taxa do rally – nesse caso voce escolhe a categoria e deverá preparar e cuidar do veiculo. Ou através de um plano com a Spinelli Racing, na qual eles cuidam de tudo e você chega e se preocupa somente em correr.
Agora se voce quer começar e não pode investir tanto, o caminho é a Motorsports, nessa competição você so precisa ter um veículo de rua Mitsubishi e fazer a inscrição, no dia da prova levar alimentos não perecíveis e kit de higiene para doação. Pronto voce entrou no mundo do rally.
Por Rebeca Martinez